As métricas de crescimento digital nasceram em um mundo de páginas, cliques e funis lineares. Agora, cada vez mais, a relação entre marcas e pessoas acontece em outra camada: o diálogo.

Clientes pedem limite de cartão em chat, renegociam dívidas com assistentes, fazem compras via mensageria e resolvem dúvidas falando com agentes de IA. Se o comportamento mudou, o trabalho de front-end e CRO muda junto. A pergunta passa a ser menos "qual tela funciona melhor" e mais "qual conversa gera confiança, resolve o problema e converte".

Este texto continua a reflexão do artigo da MATH sobre Do Web Analytics 2.0 ao Conversational Analytics e aprofunda um ponto específico: o impacto dessa virada no trabalho de quem desenha interfaces, otimiza conversão e precisa manter consistência em um mundo em que a interface começa a desaparecer.


Do clique ao diálogo: o que muda para times digitais

A transição além de estética é também estrutural.

Relatórios de bancos, consultorias e associações de setor mostram que:

  • clientes mais jovens já preferem falar com bancos por mensagem instantânea em vez de telefone ou agência

  • grande parte dos atendimentos digitais em serviços financeiros ocorre via chat

  • a disposição para trocar de fornecedor cresce quando a experiência de comunicação é ruim

Ou seja, a conversa deixa de ser “canal de suporte” e passa a ser a própria interface de relacionamento. O usuário não quer navegar por cinco menus para chegar a uma ação simples. Quer dizer o que precisa e ver isso acontecer com o mínimo de atrito.

Para front-ends, UX designers e profissionais de CRO, o impacto é direto: a unidade de trabalho deixa de ser apenas a tela isolada e passa a ser a jornada conversacional inteira.


Interfaces invisíveis e multimodais: o design sai da tela

O conceito de Zero UI ganhou força exatamente por isso. Em vez de caixas, botões e menus, a interação passa a envolver:

  • voz

  • gesto

  • biometria

  • sinais de contexto, como localização, histórico e estado emocional

Relatórios de tendências de UX apontam para uma convergência: voz e texto se combinam com toques mínimos, interfaces enxutas e respostas contextualizadas. A interface não desaparece totalmente, mas se retrai. Ela vira suporte silencioso do diálogo.

Para o profissional de front-end, isso significa:

  • pensar em estado, não apenas em layout

  • garantir que os elementos visuais funcionem como apoio à conversa, e não como distração

  • projetar para múltiplos contextos: mobile, web, mensageria, voz e, em alguns casos, dispositivos sem tela


IA automatiza protótipo, não intenção de experiência

Ferramentas como Figma com recursos de IA e plataformas de design assistido já geram:

  • layouts iniciais a partir de prompts

  • variações de composição com base em padrões de mercado

  • protótipos clicáveis em poucos minutos

Isso muda a rotina de front-end e UX, mas não elimina o trabalho. Apenas desloca a fronteira.

Se a prototipagem fica mais rápida, o valor passa a estar em:

  • formular o problema de forma clara

  • definir quais jornadas conversacionais importam mais para o negócio

  • estabelecer critérios de sucesso que vão além de “ficou bonito”

Na prática, a IA resolve o rascunho de tela, mas não decide qual conversa a marca deve ter com o cliente, em que momento e com qual profundidade. Essa decisão continua humana e estratégica.


Conversational UX encontra CRO: como medir o que importa

Em ambientes de clique, CRO se apoiava em testes de variação de layout, cor de botão, copy e fluxo de formulário. No mundo conversacional, a lógica muda.

Algumas perguntas-chave para times de CRO:

  • esta conversa resolve o problema em menos passos, sem perda de clareza

  • o tom da resposta aumenta confiança ou gera atrito

  • a transição entre bot e humano é clara ou confusa

  • o cliente entende o que pode acontecer em seguida

Algumas métricas que começam a ganhar peso:

  • taxa de resolução na primeira conversa

  • tempo até a ação desejada (contratar, renegociar, atualizar cadastro)

  • quedas de jornada em pontos específicos do diálogo

  • impacto da interação conversacional no NPS, no churn e no ticket médio

Na MATH, usamos a matriz de impacto de indicadores para conectar essas métricas de experiência a resultados de negócio. O objetivo é sempre o mesmo: sair da leitura isolada de “engajamento” e entender como a conversa influencia receita, risco e relacionamento.

Esse tema aparece de forma mais ampla no nosso conteúdo sobre IA no núcleo da operação e na cobertura do Money20/20 no blog da MATH.


Transparência como parte da interface: explicar a IA com clareza

À medida que agentes de IA passam a decidir rotas, sugerir produtos ou renegociar valores, cresce a necessidade de mostrar:

  • quem está respondendo: humano, bot ou agente híbrido

  • com base em que dados a resposta foi construída

  • quais limites o sistema respeita

A transparência deixa de ser um texto escondido em política de privacidade e passa a fazer parte da interface. Em termos práticos, isso pode aparecer como:

  • mensagens que explicam por que determinada proposta foi oferecida

  • rótulos claros sobre o uso de IA naquele trecho da jornada

  • caminhos simples para revisar, corrigir ou contestar decisões

As pessoas não temem aquilo que entendem e controlam. O papel do front-end e do UX, aqui, é tornar esse entendimento possível sem sobrecarregar a experiência.


O novo papel do front-end: de construtor de tela a arquiteto de interação

Diante desse cenário, o papel do profissional front-end deixa de ser apenas:

“transformar layout em código”

e passa a incluir:

  • participar da definição de jornadas conversacionais junto ao time de produto

  • entender como os agentes de IA se integram à experiência e onde entram os humanos

  • garantir que o que acontece na conversa seja consistente com o que acontece nas telas complementares

  • trabalhar junto a times de dados e ciência para alinhar o que é possível medir com o que se deseja otimizar

A tabela abaixo resume esse movimento.

Impacto no cenário Consequência para front-end / UI
Automação de protótipos com IA Menos tempo em tarefas mecânicas, mais foco em intenção de uso e refinamento de experiência
Interfaces conversacionais e adaptativas Necessidade de aprender design de diálogo, UX de voz e comportamento contextual
Agentes multimodais e interfaces invisíveis Design centrado em contexto e continuidade entre canais, não apenas em telas isoladas
Transparência da IA como parte da UI Criação de padrões visuais e textuais para explicar decisões algorítmicas ao usuário
Do wireframe ao código assistido por IA Colaboração mais integrada com desenvolvimento e dados, foco em clareza de regra e jornada

 

Em vez de “perder espaço”, quem trabalha com front-end ganha campo de atuação, desde que esteja disposto a ampliar repertório: linguagem natural, psicologia da atenção, comportamento de consumo e modelos de IA entram, pouco a pouco, na rotina de projeto.


Como a MATH ajuda a navegar esse novo cenário

Na MATH, tratamos o mundo conversacional como parte do redesenho estrutural da operação, não como mais um canal.

A MATH AI Platform permite:

  • conectar agentes de IA a canais conversacionais com governança, logs e segurança

  • testar jornadas conversacionais com base em dados reais e avaliar impacto em indicadores de negócio

  • integrar front-end, UX, dados e operações em um mesmo plano de observabilidade

Já exploramos os assuntos:


Se você lidera times de produto, front-end, CRO ou canais digitais, a pergunta que vale fazer hoje é simples: seus usuários ainda navegam por telas ou já conversam com o seu negócio. E, nos dois casos, que tipo de experiência você está medindo, desenhando e priorizando.

Marcel Ghiraldini
Post by Marcel Ghiraldini
Dezembro 26, 2025
Chief Growth Officer na MATH