Sheila Dada, pesquisadora do MIT, e Priscila Ferreira, head de Inteligência Artificial no Banco BV, discutem como a IA está redefinindo carreiras, competências e o papel humano nas organizações.
A inteligência artificial já deixou de ser tendência para se tornar parte essencial do cotidiano profissional. O avanço das soluções generativas e dos modelos de linguagem acelerou uma mudança profunda no modo como pensamos produtividade, criatividade e tomada de decisão.
No episódio 189 do #DoTheMATH, Sheila Dada e Priscila Ferreira abordaram os impactos dessa revolução sob diferentes perspectivas: a transformação corporativa, os novos modelos de formação e a importância da curiosidade como competência essencial para o futuro.
Mais do que uma conversa sobre tecnologia, o episódio revelou uma provocação: a IA não está substituindo o humano — está obrigando o humano a evoluir.
Nos últimos dois anos, a IA generativa passou do hype para a prática. Após um período de experimentação intensa, as empresas agora vivem uma fase de maturidade — focada em resultados reais, eficiência operacional e valor estratégico.
Para Priscila, o momento é de aterrissagem: “Chegou a hora de sair da euforia e focar no que realmente transforma.”
A tecnologia, antes vista como acessório, tornou-se parte do cerne das estratégias corporativas. E essa mudança exige um novo olhar sobre as funções, os times e os indicadores de sucesso.
A adoção da IA nas empresas está redesenhando o papel de líderes e equipes. Sheila reforça que, mais do que casos de uso, é preciso clareza sobre o propósito de cada aplicação:
“Não basta adotar a ferramenta — é fundamental entender qual problema ela resolve e o que queremos construir com ela.”
As organizações que mais avançam são aquelas que unem tecnologia, cultura e aprendizado contínuo. A IA não deve ser restrita à área técnica: ela precisa permear todos os níveis e funções, tornando-se uma aliada na criação de valor e na tomada de decisão baseada em dados.
A ascensão da IA gera uma dicotomia clara: ela pode ser barreira ou alavanca no desenvolvimento profissional. Sheila ressalta que estamos em uma “fronteira nebulosa”, na qual novas competências surgem mais rápido do que os modelos de ensino conseguem acompanhar.
“Precisamos aprender a treinar um agente de IA — não importa a profissão.”
As universidades e cursos especializados ainda tratam o tema sob uma ótica técnica, mas o futuro exige uma formação transversal, que combine tecnologia, humanidades e pensamento crítico. Nesse contexto, as iniciativas corporativas de aprendizado contínuo ganham protagonismo — empresas que formam pessoas adaptáveis formam também vantagem competitiva.
A curiosidade emerge como o grande diferencial do futuro. Enquanto máquinas aprendem a criar e automatizar, cabe ao humano perguntar, explorar e conectar pontos não óbvios.
“A curiosidade é vital — quem parar de aprender, para de evoluir”, resume Sheila.
“Formar times é provocar aprendizado contínuo, não repetir fórmulas”, completa Priscila.
As companhias que incentivam o erro construtivo e a experimentação estão construindo culturas mais resilientes. A adaptabilidade — aliada à curiosidade — se consolida como competência essencial para navegar na era da IA.
Pela primeira vez, a tecnologia desafia diretamente a noção de criatividade humana.
Sheila observa que a IA já consegue gerar soluções e ideias originais, o que nos obriga a repensar o conceito de autoria e o papel do criador.
“Originalidade não é novidade — é fazer conexões que a máquina ainda não entende.”
Mas, à medida que a IA avança, cresce também a responsabilidade ética das organizações. O uso de dados, a transparência dos algoritmos e o impacto social das decisões automatizadas precisam estar no centro da discussão.
A tecnologia só faz sentido quando guiada por valores humanos.
Estudos recentes mostram que mais de mil profissões serão impactadas pela automação — mas isso não significa o fim do trabalho, e sim a reinvenção das funções. As profissões do futuro serão moldadas pela colaboração entre humanos e máquinas, exigindo pensamento crítico, sensibilidade e aprendizado constante.
Priscila acredita que a transformação vai além da tecnologia: “A IA vai nos forçar a repensar hierarquias, educação e o próprio pacto social de trabalho.”
Empresas e profissionais que enxergam a IA como ferramenta de ampliação — e não substituição — estarão um passo à frente.
A inteligência artificial está reescrevendo a forma como trabalhamos, aprendemos e criamos.
No centro dessa transformação está o humano — não o que teme a máquina, mas o que a usa para evoluir.
Se antes o diferencial estava em ter respostas, agora está em fazer as perguntas certas.
E, como provocou Sheila Dada, “O momento é nebuloso — mas precisamos ser curiosos o bastante para abraçar o novo.”