Se você acha que ética é um checklist de compliance terceirizado para Big Tech, chegou a hora de puxar o freio de emergência.


Da pólis grega ao data center: onde tudo começou


“Ética” vem de éthos – modo de ser. Para Platão, a alma governada pela razão prática, justiça e busca do bem supremo. Já para Aristóteles, a virtude nasce do hábito e leva à eudaimonia (realização plena). 
O ponto em comum? Autogoverno: decisões são nossas, não de oráculos externos. Esse DNA grego ainda dita o jogo em 2025 – inclusive quando o “oráculo” atende por API.

O que prometem os donos do tabuleiro de IA

BIGTECH

Princípios declarados

O que desperta nosso alerta

Google

7 princípios – ser socialmente benéfico, evitar viés, segurança, accountability, privacidade, excelência científica, usos responsáveis.

Em 2025 a empresa afrouxou a proibição explícita para armas e vigilância, trocando vetos por “supervisão humana” (WIRED).

OpenAI

Carta de compromisso: “benefício amplo da humanidade”, “pit-stop se os riscos crescerem”, “governança sem corrida armamentista” (OpenAI).

Reestruturação para Public Benefit Corporation reacendeu dúvidas sobre conflitos entre lucro e missão (San Francisco Chronicle).

Tradução livre: ambos falam bonito, mas o controle final continua no mesmo endereço fiscal.

Cinco pontos cegos que podem atropelar seu negócio

  1. Transparência seletiva – Modelos são “caixas-pretas as-a-service”. Você assume o risco regulatório.
  2. Viés sistêmico – Dados globais refletem realidades que não são a do seu cliente brasileiro; o erro cai no seu colo.
  3. Lock-in moral – Se a Big Tech muda os termos de uso, você muda de princípios ou de fornecedor?
  4. Governança terceirizada – Boards internos de ética são decorativos se a arquitetura de decisão está no datacenter de outra empresa.
  5. Responsabilidade difusa – Acidentes algorítmicos viram “falhas estatísticas inevitáveis”. O jurídico vai bater à sua porta, não à do Vale do Silício.

Sinais de que o problema já chegou

  • Leads perdidos por algoritmos de pontuação que excluem minorias (bias invisível).
  • Auditorias LGPD pedindo explicações sobre dados de treinamento que você nunca viu.
  • Equipes paradas na “síndrome do modelo-caixa-preta”: ninguém sabe explicar por que a IA negou crédito a um cliente.
  • Board pressionando por produtividade via IA sem roteiro ético – e você no meio do fogo cruzado.

Manual de como hackear assumir o volante ético

  1. Crie um conselho interno de ética profissional – plural, com autonomia real e poder de veto.
  2. Audite dados e modelos: combine métricas clássicas (acurácia, recall) com métricas de “virtude” (justiça, transparência).
  3. Contratos com cláusulas de “direito à explicação” – se o fornecedor não entrega, procure outro.
  4. Eduque as equipes: hábito + prudência. Workshop único não basta; ética é musculação diária.
  5. Estabeleça seu próprio “AI Manifesto” alinhado ao negócio – mas revisado semestralmente, para não virar tábua da lei esquecida.


A ética profissional nunca foi sobre seguir regras alheias – é sobre assumir a autoria das consequências. Platão diria para deixar a razão no volante; Aristóteles lembraria que a virtude é prática diária. Em 2025, isso significa desconfiar do piloto automático das Big Techs e construir seu próprio GPS moral.

Próximo passo? Se você quer ajuda para transformar princípios em código-fonte de negócio, fale com a MATH.

Porque quem terceiriza a consciência… terceiriza também o futuro.

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Marcel Ghiraldini
Post by Marcel Ghiraldini
Agosto 11, 2025
Chief Growth Officer na MATH