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Interrogar fronteiras: publicidade na IA conversacional

Escrito por Marcel Ghiraldini | 05/11/2025 01:35:57

Quando a publicidade invade até os sonhos

E se a publicidade atravessasse o último bastião privado — o sonho? No episódio “Pessoas Comuns”, da sétima temporada de Black Mirror, surge a Rivermind: implantes que conectam cérebros a uma rede de processamento coletivo. Enquanto dormem, as pessoas “emprestam” capacidade neural para resolver problemas, em troca de continuarem vivas após experiências de quase morte. A promessa é técnica e “neutra”: usar tempo ocioso do cérebro como servidor biológico. A reviravolta é sutil. Primeiro, um jingle perdido num sonho. Depois, imagens publicitárias no fluxo noturno. Aos poucos, conversas diurnas começam a carregar resíduos comerciais. Aquilo que alguém diz, pensa ou compartilha já não é só seu: respostas induzidas se insinuam como se fossem opinião espontânea. O humano vira produto em dose dupla: processador de computação e canal de mídia, simultaneamente.

Onde há fluxo, a publicidade encontra uma fresta

“Onde tem fluxo de pessoas, tem anúncios.” Ouvi isso anos atrás, numa reunião com o então CMO do Santander, Igor Pulga. O ponto não era purismo versus pragmatismo; era economia da atenção. Plataformas migram conforme pressão competitiva e custo de capital. O que parecia heresia — publicidade em streaming — tornou-se opção inevitável em certos cenários. A Rivermind é a distopia desse princípio: achou fluxo humano, achou inventário. A água sempre acha uma fresta.

E quando a conversa vira mídia?

A possibilidade de publicidade em assistentes de IA abre um novo capítulo. Não é um banner entre episódios; é intervenção cognitiva em um ambiente de alta confiança, no exato momento em que o usuário pensa, decide, aprende. O “anúncio” pode morar na escolha dos exemplos de uma explicação, na priorização de marcas em comparativos, na omissão de alternativas, na frequência com que certo nome surge “naturalmente”. Não parece invasivo como um outdoor mental, mas a influência é maior porque atua dentro do raciocínio. Se no Black Mirror os sonhos eram o canal, aqui a “mídia” são as nossas perguntas — e as respostas que moldam nossas decisões.

Ética operacional: do fascínio à governança

O dilema não é ser contra publicidade. É como e sob quais limites. Transparência precisa ser verificável, não um rodapé genérico. O usuário deve distinguir quando uma recomendação é editorial, quando é um contrato comercial e quando é uma inferência do modelo. Logs precisam registrar por que certa resposta citou marca X e não Y; políticas devem impedir que anúncios influenciem áreas sensíveis (saúde, crédito, política) sem salvaguardas; auditorias independentes precisam simular dilemas e aferir disparidades. Em sistemas conversacionais onipresentes no trabalho e na educação, isso sai do marketing e entra na engenharia de segurança. No fim, a pergunta é simples e difícil: quando a IA é um meio de pensar, como garantir que pensar continue sendo nosso?

Na prática 

A ética só existe quando vira operação. É aqui que a MATH traz método: políticas executáveis, observabilidade e métricas em campanhas e jornadas.

O Campaign Builder, solução de automação, inteligência e orquestração de campanhas da MATH AI Platform, empodera squads de marketing, CRM, growth e produto a criarem, personalizarem e executarem campanhas de ponta a ponta, centralizando jornadas, audiências e performance em um fluxo intuitivo, seguro e auditável. Nesse contexto, ele operacionaliza três salvaguardas: declarar finalidade e critérios de elegibilidade visíveis ao time; aplicar deveres e limites (consentimento, base legal, retenção, opt-out) no próprio fluxo; e monitorar trilhas de decisão por jornada e por segmento, com simulações que testam dilemas (ex.: performance vs. saturação, relevância vs. vieses). O resultado são campanhas mais inteligentes e confiáveis — publicidade que respeita contexto, consentimento e clareza.

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Se a fronteira entre pensamento e mensagem de terceiros está ficando turva, precisamos de critérios, não de slogans. No DoTheMATH #192 — Crédito inteligente e modelagem de risco no BMG, a conversa mostra como decisões técnicas incorporam prudência, revisão humana e limites, lições úteis para publicidade em IA conversacional.

Talvez tudo ainda soe como ficção científica. Ou talvez estejamos apenas alguns passos atrás de perceber a sutileza da transição. O certo é que, onde há fluxo de pessoas, a publicidade encontra entrada. A diferença entre distopia e progresso estará na qualidade dos limites. Se a IA for o meio de pensar do nosso tempo, então ética, transparência e governança não são bastidores: são o palco.